terça-feira, 25 de setembro de 2007

Sustentabilidade: O Atributo Tangível

* José Carlos Pedreira de Freitasi é engenheiro agrônomo dedicado ao estudo da sustentabilidade no agronegócio e iretor da HECTA - Desenvolvimento Empresarial nos Agronegócios

A participação no comércio internacional quanto na busca de um modelo de desenvolvimento importância crescente da sustentabilidade do agronegócio, tanto na ampliação de nossa agrícola mais includente, tem sido objeto de alguns de nossos artigos.

Num primeiro momento abordamos a ética e a responsabilidade social nos agronegócios, mostrando não se tratar de modismo ou oportunismo, mas um diferencial capaz de conferir vantagens competitivas reais num mercado cada vez mais concorrido e globalizado.

Numa perspectiva estratégica, confrontando-se os conceitos da Economia Neoclássica com a chamada Ecoeconomia, um segundo artigo procurou demonstrar as limitações dos mecanismos de mercado para evitar sozinho os males do crescimento econômico desigual e as consequências daí resultantes.

Em seguida, passou-se a discutir os atributos de sustentabilidade emanados do chamado Triple Bottom Line, em seus componentes ambiental, social e econômico, levados ao contexto das chamadas cadeias produtivas que compõem o agronegócio.


Ultimamente, aprofunda-se a discussão da sustentabilidade sócio-ambiental como ferramenta de redução de riscos e agregação de valor. Vale a pena nos determos sobre essa questão, sempre sob a ótica de empresas e processos relativos aos agronegócios.

Lembrando Altieri (1983) para quem Sustentabilidade Agrícola é a “capacidade de um agroecossistema de manter a produção através do tempo na presença de repetidas restrições ecológicas e pressões socioeconômicas”, trata-se de identificar e medir a presença dos atributos de sustentabilidade em cada um dos três campos do Triple Bottom Line (pessoas, meio ambiente e produtividade do capital).

Para isso são utilizados “indicadores” que, além de aferir a ocorrência desses atributos nos contextos social, ambiental e econômico, devem fazê-lo no âmbito de toda a cadeia produtiva. Requer-se desses indicadores que sejam capazes não apenas de “identificar” a existência desses atributos, mas também “aferir” a intensidade dessa ocorrência.

É aqui que se observa certa desinformação no que se refere a escolha dos indicadores mais adequados. Não só quanto a capacidade de refletirem adequadamente a presença e intensidade desses atributos nos três âmbitos e em toda a cadeia, mas principalmente sob o ponto de vista de seu reconhecimento aqui e em qualquer lugar.

Se estamos de acordo que atributos de sustentabilidade só resultam em agregação de valor se adequadamente identificados e medidos, é também verdade que devem ter reconhecimento geral para incorporar credibilidade e expressão econômica.

Contata-se uma enorme variação na escolha desses indicadores, em geral definidos segundo diferentes ênfases e objetivos de cada aplicador. O resultado, como se pode supor, é uma avaliação que serve apenas a determinado grupo de interesses ou objetivos, sem permitir sua “generalização” e consequente expressão universal de valor.

E mais. Dependendo da ênfase atribuída por determinado setor a qualquer um dos componentes (social, ambiental e econômico) - resultante muito mais de pressões externas que de uma visão integrada da sustentabilidade - tem-se observado certo desequilíbrio na escolha desses indicadores. Tal prática acaba por distorcer a análise final da sustentabilidade em seus três componentes, pela adoção de ênfases diferenciadas na abordagem de cada um deles.

Como consequência não são raros esforços desperdiçados de empresas ou setores econômicos a divulgar “relatórios de sustentabilidade” - também chamados relatórios sociais, sócioambientais, de responsabilidade social e outros - elaborados a partir da utilização de indicadores e metodologias próprios e não reconhecidos universalmente.

A não observância dessa universalidade acaba por desacreditar as qualidades alardeadas e, como consequência, não agregam valor ao produto e não incorporam tais atributos ao ativo tangível das organizações.

É preciso ter em conta que diretrizes a serem adotadas e respectivos indicadores devem assegurar, além do rigor em sua aplicação, credibilidade, comparabilidade, periodicidade e legitimidade das informações contidas em tais relatórios.

Tomando em conta o caráter não compulsório das iniciativas de normatização voltadas às questões de sustentabilidade e responsabilidade social corporativa, são inúmeras as alternativas de diretrizes e metodologias que podem ser adotadas, que devem ser escolhidas segundo as características de cada caso a ser reportado.

Apenas para ilustrar, dentre as disponíveis com padrão internacional vale lembrar a AA 1000/AA, desenvolvida pelo ISEA, Institute of Social and Ethical Accountability; a SA 8000, mais conhecida entre nós; e a Global Reporting Initiative – GRI, essa última de caráter mais abrangente e reconhecida como a única aceita internacionalmente para padrão de relatórios de sustentabilidade.

Adotando padrões nacionais mas guardando certa correspondência com os padrões internacionais vale destacar os Indicadores e Guia para Relatório Social do Instituto Ethos, e o Balanço Social do Ibase lançado pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, em junho de 1997.

Utilizadas de maneira voluntária por empresas ou instituições que desejam elaborar relatórios acerca das dimensões econômica, social e ambiental de seus processos, produtos e serviços, tais diretrizes, por sua universalidade, conseguem expressar valores entendidos e reconhecidos em qualquer ambiente ou contexto.

Só a adequada escolha da metodologia será capaz de assegurar a utilização de indicadores corretos, capazes de expressar e medir a presença dos atributos de sustentabilidade nos três contextos e serem reconhecidos como tal.

Agrega-se a isso a necessária validação dos resultados alcançados, realizada por terceiros de competências especiais e reconhecimento interno e externo, em geral detentores de credencias específicas.

Tais cuidados é que permitirão tornar tangíveis tais atributos, incorporando efetivamente aos ativos todo o investimento realizado na adoção e prática dos conceitos de sustentabilidade pelas empresas, com expressivos ganhos aos acionistas, stakeholders e toda a sociedade.

Um comentário:

Ana Cecília disse...

O Agronegocio jamais atingirá a sustentabilidade, pois desconsidera a dimensão social e ambiental na produção, pois está baseada no modelo de economia clássica, não contabiliza as externalidades ou seja, os resíduos decorrentes de uma produção, concentra lucros, detona o meio ambiente. É necessária uma releitura das ações e mudança de atitudes!!!!