sexta-feira, 23 de maio de 2008

Agronegócio tem que dialogar mais e melhor com o meio urbano, diz Carlo Lovatelli da Abag

O agronegócio precisa dialogar mais e melhor com o meio urbano, diz o presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), Carlo Lovatelli.

Segundo ele, a grande massa urbana não tem uma visão próxima da realidade do agronegócio. "Logo, temos que fortalecer o diálogo, investir em um esforço educacional, que mude a percepção da cidade com relação ao campo. Mostrar os benefícios do agronegócio para a vida das pessoas que moram nos grandes centros."

Por que da escolha do tema sustentabilidade para o 7º Congresso Brasileiro de Agribusiness?

A sustentabilidade assumiu "status" de valor atribuído a processos, produtos e serviços e o universo empresarial do agronegócio tem que colocar o tema em sua agenda. A demanda pelo o que é sustentável (ambientalmente adequado, socialmente justo e economicamente viável) é tão grande, que quem ignora a questão, fica marginalizado. Por isso, queremos discutir a temática com os principais agentes do setor rural e os públicos estratégicos do segmento.

O agronegócio brasileiro adquiriu a maturidade que precisa evoluir em busca de um modelo de desenvolvimento sustentável ou o setor age pautado por pressões de fora do segmento?

É uma mistura de ganho de consciência do setor e pressão de públicos externos. A exigência pela sustentabilidade fez com que quem tinha idéia do que se tratava acelerou suas ações com foco no assunto. E quem não tinha noção da necessidade começou a agir.

Falta maior união entre os agentes da cadeia produtiva do agronegócio em favor da construção de um discurso institucional uniforme e coeso para o setor?

Sem dúvida. É uma bandeira que defendemos há anos. O agronegócio sempre foi uma atividade, de certo modo, desconhecida, marginalizada pela sociedade urbana. Isso vem mudando aos poucos, com o avanço na cobertura midiática do setor. Há cinco, seis anos não tínhamos o espaço que temos hoje.

Soma-se a isso o processo de fragmentação da representação rural, no qual cada cadeia produtiva passou a pensar somente na sua atividade. Isso enfraqueceu o setor no diálogo com a sociedade.

Outro exemplo é a iniciativa do Instituto do Agronegócio Responsável (Ares), formado pelas principais entidades do setor, com objetivo de gerar conhecimento e abrir canais de comunicação com a sociedade. A proposta do Ares é discutir as coisas boas e ruins do agronegócio do ponto de vista da sustentabilidade, de forma pró-ativa, antecipando-se, para que o setor não fique somente contornando crises.

O agronegócio não deveria dialogar mais e melhor com o meio urbano, fatia da sociedade, em que querendo ou não a Opinião Pública é formada e assim norteia as decisões de negócios e as políticas públicas?

Certamente, com cidadãos, consumidores. A grande massa urbana não tem uma visão próxima da realidade do agronegócio. Já vi casos, por exemplo, de uma criança que nunca viu uma galinha.

Logo, temos que fortalecer esse diálogo, investir em um esforço educacional, que mude a percepção da cidade com relação ao campo. Mostrar os benefícios do agronegócio para a vida das pessoas que moram nos grandes centros.

Este diálogo deficiente com a sociedade urbana não distorce a imagem que a população das cidades tem do agro?

Com certeza. Precisamos trabalhar para informar a Opinião Pública do valor do agronegócio para o País. Destacar a transferência de renda do agro para a sociedade brasileira.

O senhor participou de um giro pela Europa no final do ano passado a fim de trabalhar a questão da responsabilidade socioambiental do agronegócio brasileiro. Qual é a percepção do europeu acerca da sustentabilidade do agro brasileiro e com base nesta avaliação em quais frentes o setor deve investir?

A percepção é péssima. Eu esperava que fosse ruim, mas é pior do que eu pensava. O nível de conhecimento europeu acerca do agronegócio brasileiro é baixo, a informação é distorcida, em alguns casos, até maldosa.

A imagem é negativa por razões especulativas, de mercado, porque o Brasil é um grande player mundial, mas também por notícias de trabalho escravo, desmatamento e afins. Precisamos fazer mais "road shows" pelo mundo, mostrando o que o Brasil tem de bom. Se não começarmos a contar a verdadeira história, seremos esmagados por coisas absurdas ditas por lá. Cabe a nós este desafio.

Para encerrar, como disseminar o valor "sustentável" entre os produtores rurais?

Um ponto importante é fazer com que os investimentos em sustentabilidade sejam revertidos em melhor remuneração ao produtor rural ou em melhores condições de inserção dos seus produtos nos mercados.

Trabalhamos assim, por exemplo, no caso da soja, onde procuramos entidades internacionais, dispostas a pagar mais pela manutenção da floresta em pé, de acordo com a lei brasileira. O consumidor quer certificação. A sustentabilidade passa pela questão socioambiental, mas também pelo vetor econômico.

domingo, 11 de maio de 2008

Produção responsável na ordem do dia

Reportagem da jornalista Fernanda Yoneya, publicada dia 16 de abril no jornal "O Estado de São Paulo", destaca que a agricultura deve, cada vez mais, preservar o ambiente, além de garantir respeito a regras sociais e trabalhistas. O AgroResponsável recomenda a leitura. Confira:

"Preservação ambiental, responsabilidade social e eficiência. A busca por uma produção sustentável passa, obrigatoriamente, por esses três itens. 'O conceito de agricultura responsável baseia-se em boas práticas de produção, sob os pontos de vista ambiental, social e econômico', define a superintendente do Instituto para o Agronegócio Responsável (Instituto Ares), Meire Ferreira.

O Ares foi fundado em setembro, com o objetivo de 'facilitar a compreensão de sustentabilidade para as cadeias produtivas', explica Meire. Tem 21 entidades associadas e trabalha o conceito de agricultura responsável com dez setores: bovinocultura, suinocultura, avicultura, milho, soja, algodão, citros, café, cana e madeira. 'Os desafios ambientais e sociais são comuns a todas as cadeias.'

Outra iniciativa recente foi a criação da Round Table on Responsible Soy Association, ou Mesa-Redonda da Soja Responsável, um fórum de discussão criado para definir critérios de produção sustentável de soja. Foi lançado em 2005, por importadores europeus, e, hoje, tem como membros associações de produtores, exportadores, cooperativas, indústrias, instituições financeiras, supermercados e organizações da sociedade civil.

LISTA EM DISCUSSÃO

No fórum, dois dos representantes dos produtores rurais brasileiros são a Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja) e a Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai (Cotrimaio), de Três de Maio (RS). 'A lista de critérios está sendo discutida, mas envolve itens de preservação ambiental e ações de responsabilidade social', diz o representante da Cotrimaio no fórum, Silceu Dalberto.

Dalberto explica que entre os critérios em discussão pode-se destacar a questão da mão-de-obra, que deve ser 'socialmente justa'; a adoção do sistema de plantio direto como prática conservacionista; a preservação e o bom uso da água na propriedade, a obediência às determinações legais de manutenção de áreas de preservação permanente (APP) e de reserva legal, a devolução adequada de embalagens de agrotóxicos e a criação de um certificado para a propriedade, como forma de agregação de valor.

COMPETITIVIDADE

'Muitos produtores já seguem tais determinações, exigidas por lei, mas a idéia é fazer com que todos os produtores regularizem a propriedade para não perder a competitividade.' A previsão é que a lista de recomendações e exigências esteja pronta em 2009. Conforme o vice-presidente da Aprosoja, Ricardo Arioli Silva, a legislação ambiental brasileira pode ser considerada como uma das mais rígidas do mundo. 'O conceito de reserva legal no Brasil, por exemplo, é único', afirma. Ele cita, ainda, a questão de devolução de embalagens de agrotóxicos, que, no País, chega a 87% e, em MT, 92%, segundo o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev). Para Silva, 'a idéia é a de que o sojicultor que estiver adiantado em responsabilidade ambiental seja recompensado.'

Produzir com responsabilidade social tornou-se outro pré-requisito para se manter no mercado, sobretudo o externo. 'Essa cobrança já existe', diz o produtor Orcival Guimarães, que produz algodão, soja, milho e sorgo em quatro municípios de Mato Grosso: Lucas do Rio Verde, Sorriso, Tapurá e Santa Rita do Trivelato.

Pensando nisso, Guimarães, que produz 1,4 milhão de arrobas de algodão em pluma e exporta 70% da produção, obteve o Selo de Conformidade Social, emitido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A certificação atesta, basicamente, que a produção não utilizou trabalho forçado, infantil, indigno ou degradante, diz o diretor-executivo do Instituto Algodão Social (IAS), Félix Balaniuc, 'e prova que a propriedade é socialmente responsável'.

CONCEITOS

A produção responsável envolve critérios ambientais, sociais, de rastreabilidade, de bem-estar animal e de segurança alimentar

# Ambiente - Vai desde a obediência à legislação ambiental referente, por exemplo, às áreas de preservação permanente (APP) e de reserva legal, à destinação correta das embalagens de agrotóxicos

# Social - Deve-se fornecer condições de trabalho dignas ao trabalhador, da carteira assinada, exigida por lei, a programas voluntários de capacitação e educacionais, voltados também para seus dependentes

# Certificação - Atesta que o produto, processo ou serviço obedece a requisitos pré-definidos. Valoriza o produto sob o ponto de vista dos 3 princípios da sustentabilidade: economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente adequado."